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RB RESOLVE SER POETA
Nas páginas de La Rosa Profunda descubro que escolhi a mais curiosa das profissões humanas, salvo que todas, a seu modo, o são.
Como os alquimistas que buscaram a pedra filosofal no azougue fugitivo, farei com que as palavras comuns -- naipes marcados do tahur, moeda da plebe -- rendam a magia que foi sua quando Thor era o nume e o estrépito, o trovão e a prece.
No dialeto de hoje, direi, de minha forma, as coisas eternas; tratarei de não ser indigno do grande eco de Camões.
Este pó(eta) que sou será invulnerável.
Se uma mulher compartilhar de meu amor, meu verso roçará a décima esfera dos céus concêntricos; se uma mulher desdenhar meu amor, farei de minha tristeza uma música, um alto rio que siga ressoando no tempo.
Viverei de esquecer-me.
Serei a cara que entrevejo e esqueço, Judas que aceita a divina missão de ser traidor, Calibán no lamaçal, um soldado mercenário que morre sem temor e sem fé, Polícrates que vê com espanto o anel devolvido pelo destino, serei o amigo que me odeia. O Rubáiyát me dará o rouxinol e os Texperts as palavras-espadas.
Máscaras, agonias, ressurreições, desmancharam e mancharam minha sorte: e, alguma vez, talvez agora, eu seja Jorge Luis Borges.
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