|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
O DIA SEGUINTE...
No quarto uma quietude predomina.
Um tique marca o taque do passar...
Um vento vai e vem numa cortina
Um cheiro de castanha tem o ar.
No silêncio... restos de respiros
De bocas em espelhos e cristais.
O chão forrado de suspiros
A cama embebida pelos ais.
Fronhas e lençóis em desalinho
Lembram gestos sensuais.
Partes de desejos, aos pedacinhos
Se mostram em espasmos visuais...
No canto uma calcinha cor de vinho
Restos de amor... e nada mais!
GUIDO PIVA
POEMA-FRUTA
A beleza de uma fruta
Independe de seu sabor.
Enrolada em celofane
Ou dentro de uma cesta de vime
É particularmente bela,
Bela e cobiçada também.
Preciso libertá-la,
Tirá-la do lugar,
Enfim, comê-la.
Qual o fim
Da outra fruta
Que amadurece
Em um canto qualquer,
Num pirex da cozinha?
Encontra-se só,
Em seu estado real
E desprotegida.
As coisas mais lindas
São aquelas
Em estado de não-coisas,
Envolvidas
Por uma fina casca;
A pele do sonho,
Celofane de ilusões.
Claudia Pastore
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
gato
espuma aos pés
e névoas
painas pe
los ao dorso
passos e saltos
nervos à pele
raios aos olh
os alvos
GUIDO BILHARINHO
AZUL E AMARELO
Um verão
cor de limão cravo
em sua explosiva madurez
entre os verdes galhos.
Um verão
cor das bancas de pequis
na rua Goitacazes
com seus amarelos
que vibram nas retinas.
Um verão
cor de anil,
o céu de novo aberto
depois das chuvas
repentinas.
DONIZETE GALVÃO
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
DEFINIÇÃO DE POESIA
Poesia, ponte em cima
de abismos não abertos
ainda ou flor que anima
a pedra no deserto
e a deixa logo prenha,
é régua que calcula a
linguagem e lhe engenha
modelos de medula
NELSON ASCHER
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
DESEJO
Quero o poema simples
que se aproxime do povo
e afugente os críticos.
(Bem, talvez "afugente" não seja povo;
talvez seja melhor "afaste"
ou quem sabe "arrede".)
EDMÍLSON SANCHES
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
NIHIL NOVI...
Eu via o discípulo
ouvir do ancião:
"Não existe o velho nem o novo;
tudo é repetição
-- inclusive sua dúvida, filho,
inclusive esta explicação
e os versos do poeta que nos espia".
EDMÍLSON SANCHES
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
BAR
Hora cheia de bar
e chuva de prata lá fora.
Óculos de todas as cores quebrando
o espaço entre duas flores,
uma pérola de abril entre esta
multidão de bestas e beatos,
e um choro lá fora
do lado mais velho da palmeira livre.
Teresinka Pereira
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
FOTOSSÍNTESE
Raio de sol enclausurado
na celulose do papel
verdes lembranças ...
EMMANUEL CHÁCARA SALES
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
VENHO DO OCEANO
Venho de mares profundos,
Onipotentes e solitários,
Petróleo cor de emoção,
Encrespado em brancas ondas.
Venho do oceano infinito,
Mágico de harmonia delirante,
Margeando grandes centros,
Liderando movimentos.
Venho de dentro daquele mar,
Que me embalou na infância,
Conheceu minhas dores,
Refletiu ecos de alegria.
Venho de sua imensidão,
Da plenitude invisível,
De energias inexauríveis,
Da correnteza copiosa e perene.
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
Venho banhada pelo húmus,
Restaurada na distância,
Revigorada e alerta,
Batizada nos verdes mares.
Venho com o verde no olhar,
De esperança borbulhando,
Acreditando na força,
Sorrindo entre as espumas.
Venho do fundo do mar,
Molhada, mas aquecida,
Nos segredos confiando,
Voando no espaço.
VÂNIA MOREIRA DINIZ
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
FALA
Reduzir palavras,
encurtar distâncias,
não poupar esforços,
resumir os factos,
para ser conciso
como um dente.
Ser simples e breve,
um ponto final.
Apenas uma ruga,
uma sanguessuga
no sim do desejo:
pão, pão; queijo, queijo
em Portugal.
GILBERTO MENDONÇA
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|